Considere a seguinte situação: você, cliente de uma loja, resolve visitá-la para se distrair e olhar (apenas olhar) o que há de novo. De repente, uma funcionária chega de surpresa com a pergunta fatal: “Bom dia, já possui nosso cartão da loja?”. Você escolhe ser honesto e polido: “Não, mas não tenho interesse, obrigado”.
A história segue com a moça, que quase implora: “Eu poderia ter um pouco da sua atenção para explicar como funciona o cartão?”. Ok. Depois da paciência para ouvir e dos trâmites todos na forma de falas decoradas, você não está convencido de que adquirir um cartão só lhe dará vantagens. Mantém-se no “Não, obrigado”. E aí inicia-se o embate, que dura alguns segundos. De um lado, a vendedora insiste de todas as maneiras possíveis. Do outro, você se controla para não perder a compostura – e só consegue se livrar da “carrasca” depois de deixar claro que não quer.
Esse episódio aconteceu comigo em uma filial da C&A no centro de Porto Alegre. Poucos dias não foram suficientes para que eu esquecesse o assunto. Ao contrário, acho que o desrespeito foi tão grande que ainda me pego pensando nisso e em formas de expôr a situação (este post, claro, é uma delas).
Com frequência, economistas e demais estudiosos da área escrevem sobre, dão entrevistas ou participam de programas falando de educação financeira e do quanto ela é importante. Hoje, as lojas dos mais diversos ramos oferecem atrativos com o crediário: segurança, praticidade, parcelas facilitadas, alguns brindes. Vale a pena? Quando se tem cautela, pode ser válido, sim. Mas esta não é a realidade de muitas pessoas que, iludidas com a facilidade e sem conhecimentos sólidos de planejamento financeiro, encontram o endividamento e a inadimplência.
A consciência dos custos de se manter um cartão de crédito, a preferência por pagar à vista ou simplesmente a falta de interesse são alguns dos motivos para outras pessoas não aderirem à “coleção” de cartões. Não há razão para que isso não seja compreendido, pois trata-se de uma escolha pessoal. Alguns estabelecimentos já não veem por este ângulo e incorporam práticas de vencer pelo cansaço às suas políticas de venda. A impressão que fica é a de que levar em consideração o atendimento e a satisfação do cliente já não é mais prioridade.
Fica a pergunta: por que os funcionários da C&A não são instruídos a respeitarem o cliente? Existe uma página, da própria loja, que informa sobre os cartões. Se alguém não tem interesse naquele momento, por que o cliente não é convidado a visitar o site da loja e a página que informa sobre os cartões? A C&A já produz um jornal que é praticamente um catálogo de moda e comportamento. Certamente um folder com o link da página de cartões mais todas as informações necessárias já seria suficiente para ser entregue, sem falar na abordagem menos invasiva para o consumidor, cada vez mais atuante e conhecedor de seus direitos.